Como abandonar Pai e Mãe para receber a Cristo?

"Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á" Mt 10: 32- 39.
Myer Pearlman ao comentar os versículos acima disse: "Esta é a idéia contida nestes versículos: A comunhão com Cristo pode significar separação daqueles que nos são queridos na terra, mas a recompensa será grande (...) É doloroso o repúdio dos familiares, talvez a mais severa tentação que o convertido possa enfrentar" Pearlman, Myer, Mateus, O evangelho do Grande Rei, Ed. CPAD, 1. ed. Rj, 1995, Pág. 75, V.
Jesus realmente recomendou aos seus ouvintes, e a nós, que abandonássemos os nossos familiares? Como entender estes versículos e conciliá-los com o primeiro mandamento com promessa? "Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa" (Efésios 6: 2).
Como entender que o príncipe da paz não veio trazer paz à terra? O príncipe da paz empunha uma espada? Por que Jesus veio semear dissensão entre o homem e o seu pai? Como interpretar essa passagem?
O apóstolo Paulo é categórico quanto à interpretação "As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais" (I Coríntios 2: 13).
A interpretação bíblica não pode ser pautada em sabedoria humana. Ela deve ser estudada através do que o Espírito Santo ensina. Como o Espírito nos ensina? Quando comparamos as coisas espirituais com as espirituais!
Para comparar as coisas espirituais com as espirituais, e ser ensinado pelo Espírito de Deus, devemos nos socorrer da citação bíblica que Cristo faz: "Os inimigos dos homens são os da sua própria casa" Mt 10: 36 e Mq 7: 6b.
O profeta Miquéias sente pena de si mesmo. Miquéias sente-se faminto pela justiça Mq 7: 1. Por que esta fome e sede? Porque não há homem piedoso sobre a face da terra. Ninguém é reto, pois todos se desviaram em Adão Mq 7: 2.
As obras dos ímpios e o mal, ou seja, a árvore produz frutos segundo a sua espécie Mq 7: 3. O melhor dos homens é comparado a um espinho, que se dirá do mais reto? Mq 7: 4. Porém, Miquéias visualiza algo maravilhoso: veio do dia dos seus vigias, ou seja, o dia daqueles que esperavam a visitação de Deus! Mas, o dia da visitação do Messias, também é dia de confusão! Quem haveria de entender as parábolas de Cristo? Mq 7: 4.
Na visitação seria semeada a desconfiança Mq 7: 5. O motivo é evidenciado: o filho despreza o pai; a filha é contra a mãe; a nora e a sogra não têm acordo. Por fim, tudo se resume na frase: "Os inimigos do homem são os da sua própria casa".
Após lermos e interpretarmos estes versículos de Miquéias, passemos ao Novo Testamento.
Quando Jesus cita o pequeno trecho de Miquéias, ele estava anunciando ao povo que a profecia estava se cumprindo ao seus ouvidos. Jesus estava anunciando que ele era o Messias esperado por muitos, e que havia chegado o dia da visitação.
O texto de Miquéias é claro: O Messias não haveria de trazer paz, mas confusão e dissensão Mq 7: 5- 6. Por quê? A mensagem do evangelho demonstra que os injustos vivem para si, e não para Deus. A condição de injustiça dos homens teve origem em Adão, e não em suas ações, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus.
Jesus veio por causa dos injustos, ou melhor, daqueles que tem fome e sede de justiça Mq 7: 1. Destes elementos decorre que: Deus jamais haveria de estabelecer comunhão com os filhos da ira, por isso, Cristo não trouxe paz aos homens que habitam a terra. Ele trouxe a espada, que representa morte e justiça. Os ímpios só podem ter contato com a espada, e não com a paz de Cristo.
Ao trazer a espada (justiça e morte) àqueles que têm sede e fome de justiça, Cristo estabelece a dissensão entre os seus familiares. Como? O homem está condenado diante de Deus por causa da filiação de Adão. Os judeus consideravam salvos por serem descendentes de Abraão. Jesus propõe aos seus ouvintes que se desvinculem de seus familiares, ou seja, das suas origens em Adão e da idéia de que eram descendência de Abraão para que se tornasse possível receberem a Cristo.
Da mesma forma que Abraão saiu do meio de sua parentela por fé, só é possível o homem abandonar pai, mãe, irmão e irmã por meio da mesma fé que teve o pai Abraão. Somente desta forma é possível adquirir a filiação divina.
Para ir após Cristo, somente tomando a cruz. Não há como seguir após Cristo até Deus, sem antes o homem ter um encontro com a cruz de Cristo. Na cruz de Cristo o homem corta toda e qualquer relação que tinha antes com o pecado de Adão, ou com a idéia de que é filho de Deus por intermédio da descendência de Adão.
A cruz de Cristo é a espada que traspassa o velho homem que teve origem em Adão. Somente após ter um encontro com Cristo, o homem terá a sua fome e sede de justiça saciadas. Este perde a sua vida terrena, e adquire de Deus uma nova vida, achando-a. É vida abundante!
Aqueles que encontram a nova vida que há em Deus, são aceitos por filhos de Deus e declarados justos.
Isto posto, fica demonstrado que em momento algum Jesus disse para abandonarmos os nossos genitores ou parentes à própria sorte. Antes, Jesus recomenda aos seus ouvintes a honrar pai e mãe, e este é um dos mandamentos de Deus "E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus" (Mateus 15: 6).

Claudio Crispim

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