Crianças diante do mundo
Cris Poli
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Cris Poli iniciou seu contato com Enfoque em julho de 2006, quando convidada pelo Grupo MK de Comunicação. Veio até nossa redação no Rio de Janeiro para participar de várias atividades, nos concedendo uma entrevista. Desde então, sempre acompanhando seu programa como Supernanny no SBT, a revista não apenas tem usufruído de suas orientações, como possui o privilégio de tê-la como nossa colunista. Cris aborda um tema no qual é especialista – educação – agregando a ele valores cristãos, como serva de Deus que é.


Qual tem sido sua experiência com crianças com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade – TDAH? Como essas crianças podem ser diagnosticadas e qual o tratamento que devem receber em casa dado pelos pais, além do acompanhamento de terapeuta e medicamentos?

Tenho pouca experiência com crianças com TDAH. Tive um aluno de 6 anos na primeira série da escola onde trabalho – Escola do Futuro, e ele tinha acompanhamento de um terapeuta e medicamentos. Quando tomava os medicamentos, conseguia se concentrar e trabalhar direitinho; sem os medicamentos, não conseguia ficar quieto nem um minuto nem se concentrar no trabalho que estava sendo realizado. Ele era consciente disso, apesar da pouca idade, e pedia que eu esperasse que ele tomasse o medicamento para começar a aula.

Tenho visto que hoje é muito comum os pais dizerem que seu filho é hiperativo. Na maioria das vezes, porém, a criança não é hiperativa, mas simplesmente irrequieta e precisa de regras e disciplina. Creio que é muito mais fácil justificar o mau comportamento com um diagnóstico de hiperatividade do que assumir a autoridade de pai e agir com firmeza. Conversei bastante com uma psicóloga a respeito e ela disse que o TDAH somente pode ser diagnosticado, com certeza, por volta dos 7 anos. Antes disso, o diagnóstico não é seguro.

Minha dica para os pais com filhos agitados ou que não param quietos: organizem o dia deles, coloquem regras e uma rotina diária com atividades de acordo com a idade, cuidando para não deixá-los muito tempo diante da TV ou do videogame. Observe o comportamento de seu filho, pergunte como ele é na escola e, se houver suspeita de um comportamento diferente, consulte um profissional competente.


O que você acha da situação cada vez mais crescente nos lares em que a família é sustentada pela mãe, que é divorciada, e cuida sozinha dos filhos? Como ela deve suprir a ausência do pai? Ela deve ser a famosa “pãe”?

A situação da mãe divorciada que cuida sozinha dos filhos e que sustenta a família é, de fato, cada vez mais freqüente. É uma situação muito difícil porque a presença do pai é superimportante na educação dos filhos. Devemos analisar cada caso isoladamente porque há muitas realidades. Há casais que estão separados, mas o pai é presente, faz visitas freqüentes e participa da educação dos filhos. Esse é o caso menos complicado porque a mãe, mesmo estando separada, tem o apoio parcial do pai das crianças.

Existe o caso do pai que também é presente, mas tem uma visão completamente diferente da mãe sobre a educação dos filhos e nos finais de semana, quando está com eles, desfaz a educação que a mãe dá com tanto trabalho durante a semana. O que fazer nesse caso? É necessário uma conversa dos pais em busca de um acordo sobre a educação dos filhos, pensando no bem-estar das crianças.

E tem o caso em que o pai é absolutamente ausente, não visita os filhos, não ajuda no sustento das crianças e fica tudo por conta da mãe. É difícil suprir a ausência do pai porque ele tem uma função específica e importante que mais ninguém pode exercer. Mas a mãe pode tomar uma atitude firme na educação que ela quer para seus filhos e se posicionar com força, sabedoria, muito amor e paciência. Claro que é difícil e pesado porque não há ninguém para compartilhar os problemas ou pedir uma opinião antes de tomar uma decisão. A presença de Deus na educação dos filhos é muito importante e de grande ajuda na orientação a ser dada em cada caso.


O que você acha de dar mesada aos filhos? Existe uma idade mais apropriada? Como deve ser a educação financeira dada às crianças?
Creio que as crianças devem aprender a dar valor às coisas e saber que tudo custa dinheiro e é conseguido com esforço e dedicação. A educação financeira pode e deve ser dada às crianças desde pequenas através de moedinhas que podem ser chamadas de sementinhas. Porquinhos ou caixinhas de poupança podem ser os nomes dados aos recipientes onde a criança deve ir guardando centavinhos para, num determinado momento, comprar algo com isso. É por meio de atos simples que as crianças começam a entender a importância dessa atitude. Creio que a mesada é importante para dar continuidade ao ensino iniciado com a poupança. Qual é a idade apropriada? Assim que a criança conheça os números e o valor do dinheiro e consiga somar e subtrair. Isso acontece por volta dos 6 ou 7 anos. Tem alguns livrinhos infantis que tratam o tema da poupança e da mesada que são bastante educativos e interessantes: Paulina e o Ipê Amarelo, de autoria de Álvaro Modernell, Zequinha e a Porquinha Poupança e A Cidade da Prosperidade, do mesmo autor.


Como as crianças devem aprender a conviver com a violência? Se uma criança apanha sempre de um amigo da escola, por exemplo, que orientação os pais precisam dar?

As crianças não devem aprender a conviver com a violência. Eles não devem se acostumar com a violência e não devem achá-la natural. Se isso acontece, as pessoas ficam insensíveis à agressão e ao desrespeito pelo próximo. As crianças devem ser ensinadas a rejeitar esse tipo de coisa porque violência gera violência. Se uma criança apanha sempre de um amigo da escola, primeiro ela tem que entender que esse não é um amigo. É simplesmente um colega de classe com o qual ele deve tentar fazer amizade. Amigo não bate. Se isso acontecer e, dependendo da idade da criança, a professora deve ser acionada para intervir na situação com medidas de disciplina e investigar o que está acontecendo.

Não concordo com a orientação dada por alguns pais num caso como esse de revidar no colega, porque, com certeza, o problema não será solucionado e essa será uma atitude constante que não dará em nada. As mudanças que queremos que aconteçam na sociedade devem ser inculcadas nas crianças agora para que essa semente dê seu fruto na hora certa. Provérbios 22.6 diz: “Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele”.


E, diante desse quadro geral de violência, é certo ficar criando medo nas crianças com relação a certas ameaças, como assalto, seqüestro etc.?

Não creio que é certo ficar criando medo nas crianças com relação a certas ameaças de violência. Vivemos num tempo em que essas situações fazem parte do dia-a-dia, infelizmente, e as crianças ficam sabendo do horror desses acontecimentos pelos meios de comunicação. Mas todo o medo inculcado nos pequenos não é bom porque o medo paralisa e nos deixa inativos diante das circunstâncias. Se a solução dos problemas está fora de nosso alcance, pelo menos podemos orar e pedir a Deus que reverta essa situação e nos liberte dessa violência que assola nossas cidades, especialmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. O medo não vem de Deus e a oração move os céus e transforma as circunstâncias. Educar nossos filhos dentro dessa realidade é prepará-los para acreditar num futuro melhor.

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fonte: http://www.revistaenfoque.com.br/index. ... ateria=955