Por José Carlos Martins


Para muitos, Deus tem se transformado em uma máquina de atender pedidos.
Eles têm feito com Deus o que fazem, por exemplo, como um caixa eletrônico.
No caixa eletrônico, chegam e passam o cartão, dão comandos e o dinheiro aparece.
Estão tratando Deus como se fosse isso; vêm com a “senha” que lhes foi passada, inculcada, apertam “os botões dos segredos de Deus” e retiram o que querem.
Muitos são os promotores deste tipo de evangelho, o evangelho das senhas, das chaves, dos segredos, dos moveres, o evangelho dos que descobriram “como fazer para terem o que desejam”.
O Deus da Bíblia jamais foi instrumento de manobra de ninguém, nunca foi coagido, não se traiu em suas palavras para que possamos colocá-lo contra a parede e obrigá-lo a fazer o que queremos.
Ainda, há que se levar em conta que para nos beneficiarmos das vantagens de um caixa eletrônico, temos der ter credito. O que lá sacamos, é fruto do nosso trabalho, é o resultado do que fazemos.
Lembro-me de uma vez em que meu filho me disse: “É só apertar o botão; então por que o pai não pega mais?”
Não sabia o meu filho que para se pegar ou pegar mais, há que se fazer, há que se trabalhar. Primeiro se trabalha, se produz, se dá fruto, para depois ter o que sacar.
Com Deus não é diferente, se quisermos dEle, não o teremos se não tivermos crédito, se não fizermos por merecer.

O fazer por merecer, aqui, não significa que possamos alcançar algo pelos nossos méritos, mas significa que o favor não merecido, a graça de Deus, está habitando em nós por estarmos nEle, por livre arbítrio, e agora a graça produz fruto em nós que engrandece a Deus.
O fazer por merecer é entendido, aqui, como entende-se o “ide e não peques mais” de Jesus à mulher que ele havia libertado dos seus pecados e das mãos dos fariseus que queriam apedrejá-la. Havia uma condição para que as coisas continuassem bem para ela, depois daquele livramento, era o não pecar como resultado de seguir a Jesus de alma.
Não é que Deus esteja cobrando algo em troca do que Ele fez e ainda fará por nós, é que não há como seguir a Jesus sem ser de alma e coração, o que não for assim não produz legítimos frutos e não traz como conseqüência legítimas bênçãos de Deus.
O fazer por merecer, aqui, é servi-lo sem bargalhas (só Ele sabe qual é a nossa postura) e aí simplesmente a sua misericórdia nos faz merecedores das suas benções.
Como dar fruto e receber dEle sem fé? É a fé simples, dependente, desprovida de interesses que nos faz ter crédito, crédito que também não é o nosso fim, objetivo, mas que está ao nosso alcance justamente por não ser o nosso alvo maior; o nosso objetivo maior é estar com Ele, porque Ele é tudo para nós. Esse é o tipo de fruto, de produção que deve aparecer em nossas vidas para sermos alvos do seu amor e isso só se consegue dependendo dEle (o que é uma batalha constante dentro de nós).

Voltando ao que estava discutindo anteriormente, e reforçando o que já foi dito, criamos saldo com Deus, quando produzimos verdade, integridade, sinceridade. Isso é o buscar o reino do céu em primeiro lugar e ter o mais acrescentado.
Deus não é máquina que simplesmente vai responder a simples códigos tais como: eu determino, está feito, está quebrado, eu ordeno, sai isso, sai aquilo; se não há saldo, e talvez o limite já está estourado, e por conseqüência a conta está bloqueada, como receber?
Só se colhe aquilo que se planta. Mas muitos tem ensinado a colher, colher, adquirir, determinar vitórias, a prosperidade para aquisição do carro, da casa, sem que se plante Evangelho de verdade, para que pela bondade de Deus se colha.
Ora, quem vive o Evangelho de verdade, tem a sua busca centrada na verdade, no Senhor, não naquilo que ele pode dar; o centro é aquilo que Ele é.
Portanto, Deus não é um “ciberdeus” ao nosso dispor, com uma interface que melhor nos agrade ou se não nos agrada, vamos adaptando ao nosso gosto.
Disse Ele: Eu sou o Senhor e não há outro além de mim.

Como lidar com isto?

Precisamos escolher a quem servir, se a Deus e o seu Cristo e sua palavra ou a aparência de evangelho que se transmuta de tempos em tempos conforme a conveniência de alguns. Pena que tanta gente de boa mente se deixa levar pelo aparente.
É tempo de questionarmos se somos apenas evangélicos (“apenas-evangélicos” estão se deixando embrenhar em qualquer contexto de novidade) ou se somos do Evangelho.
Parece que ser do Evangelho é estar para trás, é ter perdido o passo da “caminhada gloriosa da igreja na face da terra”, é não ter o discernimento dos tempos, da “unção final” ...

Como lidar com isto?

Optando pelo que é verdadeiro, ainda que nos apaguemos no cenário, ainda que deixemos (aparentemente) de fazer o que todos viam que fazíamos e pelo qual éramos elogiados. Se o que fazíamos ou fazemos não estava ou não está centrado no ser do Evangelho, não vale a pena continuar.
Mas, se o caso não é parar, que mudemos de atitude, ainda que o nosso mudar de atitude faça com que sejamos parados.
Estaremos fazendo mais para Deus se conseguirmos viver com mais intensidade a verdade, e esse viver não necessariamente significa aparência, sinais, ser próspero da forma como se enfatiza hoje.

Como lidar com isto?

Rejeitar o deus, o cristo robotizado, mordomo, servo do homem que a religião evangélica de alguns tem tentado colocar como verdadeiro nestes dias em que o discernimento está arrefecido.
Tempo atrás, li um artigo sobre os três Rs da vitória (não os três Vs, e também não um artigo de simples chaves de vitória) e que cabe bem neste contexto. Eram eles: R de reconhecer, R de Rejeitar e R de Resistir.
Só se vence (ou ao menos se luta para vencer), reconhecendo a situação em que se está; só se vence rejeitando tal situação; só se vence resistindo às ofertas do que se reconheceu e se rejeitou.
Sendo assim, se percebemos que o tipo de evangelho que foi descrito no início deste texto, não é evangelho que alimenta a alma de fato, não é de e da verdade, temos que reconhecer que não nos serve, restando rejeitá-lo, resisti-lo.


Quando o Senhor não é a primazia, acabamos como aqueles com quem Paulo não ousava querer se assemelhar e não queria que os que seguiam os ensinamentos de Cristo, que ele pregava, o fizessem: “Porque não ousamos classificar-nos ou comparar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas eles, medindo-se consigo mesmos e comparando-se consigo mesmos, revelam insensatez”, 2 Coríntios 10:12.
Portanto, o que produzimos espiritualmente só deve estar associado ao que predomina no dia-a-dia religioso, evangélico ... se passar no teste da associação e comparação, especificamente e exclusivamente, com o Evangelho de Jesus Cristo, e isso só se faz (o submeter-se ao teste) quando se está disposto a perder para ganhar (Marcos 8.35), porque, segundo o Evangelho, não há efetivo ganho em ganhar só porque a maioria, aparentemente, está ganhando, antes o que vale no Evangelho, é a legitimidade do ganho.

Para terminar, vale lembrar que “a arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada; só o SENHOR será exaltado naquele dia” (Isaías 2:17), pois “[...] saberás e refletirás no teu coração que só o SENHOR é Deus em cima no céu e embaixo na terra; nenhum outro há” (Deuteronômio 4:39).


Que Deus nos dê vitória para que, como professores, possamos transmitir, com o máximo do nosso coração, da nossa força, algo que se assemelhe muito mais com o que Jesus ensinou, os apóstolos ensinaram do que com aquilo que estamos vendo e talvez vivendo.


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