Inspirados em filmes e histórias de horror,
jovens retomam o culto aos mortos-vivos


As criaturas da noite estão à solta. Caminham de sobretudo, freqüentam festas góticas e nutrem especial admiração por caninos pontudos. Em pleno século XXI, sites e blogs substituem as antigas sociedades secretas e abrigam caloroso debate sobre temas tão corriqueiros quanto os perigos da luz do sol e os novos filmes de terror. Segundo o livro Vampyres: quand la réalité dépasse la fiction (Vampyros: quando a realidade ultrapassa a ficção), do francês Laurent Courau, cerca de 15 mil herdeiros de Drácula perambulam hoje pelas grandes cidades. “Amsterdã, Paris, Nova York, Veneza e New Orleans são as preferidas”, cita o autor.

Courau pesquisou a presença de “vampyros” no Brasil e entrevistou Lord A., 28 anos. Veterano na cena gótica paulistana, Lord A. trabalha como webdesigner durante o dia e, por isso, prefere manter em sigilo seu nome de batismo. “Há quem pense que nós fazemos rituais satânicos”, justifica ele. Segundo o webdesigner, que dá aulas sobre vampiros em um centro místico de São Paulo, os fãs que reproduzem o visual e os hábitos dos mortos-vivos são chamados de “vampyros”, com y. “Livros de Anne Rice, como Entrevista com o vampiro, fizeram com que o personagem deixasse de ser um monstro para se tornar um ser com paixões e dilemas existenciais”, explica Lord A. Condenado à imortalidade, o vampiro busca entender a si mesmo e também aceitar a sua condição de imortal. De maneira análoga, os vampyros da vida real sentem-se bem ao exercer sua individualidade, mesmo que de uma forma aparentemente sinistra.

Há quem não se contente em ler clássicos de horror e desfilar em trajes vitorianos. O paulista Cristiano Marinho, 29 anos, por exemplo, alongou
os próprios caninos e, apaixonado pelo assunto, adotou o pseudônimo Kizzy Ysatis, com o qual assina Clube dos imortais, seu primeiro livro.

Antes mesmo de ser lançado, o livro arrebatou o prêmio Rachel de Queiroz de melhor romance, concedido pela Associação Brasileira de Escritores. “Quem embarca nessa viagem se transforma. Basta colocar a capa para que os gestos se modifiquem”, diz o escritor.

Entre as moças, espartilhos, botas e rendas desempenham a mesma função. “Tenho dois armários, um para as roupas convencionais, que uso de dia, e outro para as que uso à noite”, conta a também paulista Luana Ferreira, a Lua, 22 anos, dona de uma oficina de customização de moda. “Fui atraída a esse universo pelo visual dos personagens e pelo romantismo das histórias”, diz. Desde o clássico Drácula, escrito por Bram Stocker em 1897, livros e filmes sobre o assunto não param de despertar fascínio.

IstoÉ


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