[align=center]A carta aos[/align]

[align=center]Efésios[/align]

[align=left]Capítulo I[/align]

1 Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus, aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus:
O escritor da carta se identifica aos destinatários: Paulo.
Esta carta possui uma característica diferente das outras. Paulo não precisa defender o seu apostolado. Ele demonstra que pela vontade de Deus era apóstolo de Cristo.
Em outras cartas Paulo geralmente se apresenta como servo de Cristo Fl 1. 1; Rm 1. 1.
Cabe salientar que a carta aos efésios é auto-explicativa, principalmente quanto aos elementos apresentados na introdução. Observe:
Sobre o seu apostolado Paulo esclarece que foi feito ministro do evangelho segundo a operação do poder de Deus Ef 3. 7. Paulo demonstra que tal poder foi manifesto em Cristo quando Deus o ressuscitou dentre os mortos Ef 1. 19- 20.
Compare Gl 1. 1 com Ef 1. 1:

“Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus...” Ef 1. 1;
Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos)” Gl 1. 1.
Paulo identifica os destinatários da carta: os santos e fiéis em Cristo que se encontravam em Éfeso.
Santidade e fidelidade advêm do estar em Cristo. Em Cristo é a condição de existência da nova criatura, conforme Paulo escreveu aos cristãos em Coríntios:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” II Co 5. 17.
Em Cristo os cristãos são santos e fiéis, qualidades da nova criatura
“E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” Ef 4. 24.
“...aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo Jesus:” Ef 1. 1 e 4.
A fidelidade expressa neste versículo não possui relação com a fidelidade descrita em Ef 6. 21.



2  A vós graça, e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!
Aos cristãos Paulo deseja graça e paz da parte de Deus.
Graça remete ao favor imerecido de Deus; e Paz, é aquela que excede a todo entendimento, pela qual fomos reconciliados com Deus.


Com relação a escrita, verifica-se que em sua apresentação e saudação Paulo utiliza a primeira pessoa do singular do caso reto “Eu”.
Ao passar a louvar a Deus por bênçãos recebidas, Paulo utilizar a primeira pessoa do plural, fato que inclui todos os cristãos como alvos das bênçãos divina “Nós”.
Observe que o prefácio e a saudação possuem um contexto diferente do versículo três em diante. Nos versículo um e dois temos a apresentação do remetente da carta, os destinatários da carta e a saudação. Do versículo três em diante Paulo passa a louvar a Deus por bênçãos recebidas.



3 Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo;
O versículo três em diante deve ser analisado do ponto de vista de quem louva a Deus
“Bendito o Deus e Pai...” (v. 3).
Quem louva, louva por aquilo que recebeu das mãos de Deus e por sua grandeza. Do versículo três até o versículo doze o contexto é de agradecimento por bênçãos recebidas.
A estrutura do texto da carta é semelhante ao Salmo 103. Da mesma forma que Davi bendiz ao Senhor, Paulo também bendiz. O salmista bendiz ao Senhor pelos benefícios recebidos, e a partir do versículo três ele passa a enumerar as bênçãos recebidas.
O apóstolo Paulo também bendiz ao Senhor e passa a enumerar as bênçãos recebidas nos versículos quatro a doze.


“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade” Ef 1. 3- 5.
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia” Sl 103. 1- 4.

O contexto é de louvor, e toda e qualquer declaração de Paulo deve ser analisada com base no louvor.
Sobre o louvor é necessário observarmos que só há duas maneiras pelas quais se louva a Deus.
A primeira maneira é agradecer fazendo referência aos benefícios recebidos; a segunda maneira é fazendo referência aos atributos de Deus. Não há outra maneira, além destas duas, que se possa louvar ao Senhor.
O salmista Davi utiliza estas duas maneiras de louvor:
 

“Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia” Sl 103. 1- 4.
Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR Deus meu, tu és magnificentíssimo; estás vestido de glória e de majestade. Ele se cobre de luz como de um vestido, estende os céus como uma cortina. Põe nas águas as vigas das suas câmaras; faz das nuvens o seu carro, anda sobre as asas do vento. Faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros um fogo abrasador” Sl 104. 1- 4.
O salmo 103 faz referência aos benefícios concedidos por Deus, e o salmo 104 faz referência aos atributos de Deus.
O apóstolo Paulo adota a linha de louvor demonstrada no salmo 103:
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” Ef 1. 3.
Louvor pelos benefícios recebidos.
Após verificarmos o contexto na qual estão inseridas as declarações de Paulo, analisaremos dois elementos presentes neste versículo:
a) bênçãos espirituais, e;
b) regiões celestiais.

• Há um contraste significativo entre o que é espiritual e o que é material. O apóstolo Paulo descreveu as nuances deste dois ambientes aos cristãos em Coríntios.

a) Primeiro se estabelece o que é natural, e depois o que é espiritual I Co 15. 46;
b) Tudo que é concernente a Cristo é espiritual, e tudo o que é concernente a este mundo é material I Co 10. 4;
c) Aqueles que nascem de Deus são espirituais, e passam a ser casas espirituais I Pd 2. 5;

Jesus ao falar a Nicodemos demonstrou que o que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito, é espírito. Analisando Jo 3. 6 com Jo 1. 12- 13, percebe-se que após a regeneração o cristão passa a ser espiritual.

• A relação entre benção e graça.
Observe:
“Um santo, no N.T., não é uma pessoa sem pecado, mas um pecador salvo”
Citação da Bíblia de Scofield com referências, Ef 1. 1.
Em uma mensagem de cunho evangelístico é plenamente aceitável a colocação: ‘Deus salva o pecador’. Isto é fato, Deus veio resgatar o que estava perdido
“Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” I Tm 1. 15.
   
Agora, em uma mensagem de ensinamento se utiliza a mesma linguagem? Não! Jesus ao falar a Nicodemos apregoa o seguinte:
“Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” Jo 3. 3.
Observe que a abordagem é diferente: A oferta da salvação é para todos os pecadores, mas só o regenerado, o novo homem, é salvo. Por que?

a) Cristo não é ministro do pecado; ao estar salvo, isto significa que estamos livres do pecado em todos os seus aspectos
“Pois, se nós, que procuramos ser justificados em Cristo, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura Cristo ministro do pecado? De maneira nenhuma” Gl 2. 17.
b) Vale salientar que o novo homem em Cristo é salvo, e não o velho homem, pois este deve morrer através da cruz de Cristo. Dependendo da abordagem a respeito da salvação, por um lado Deus resgata o pecador, por outro, só o novo homem é salvo por Deus.
Podemos ilustrar esta verdade desta forma: Se uma embarcação encontra um naufrago em uma ilha deserta, após resgatá-lo, os tripulantes da embarcação continuarão designando o novo tripulante da embarcação de náufrago. O ‘naufrago’ passa a fazer parte da tripulação do navio, e mesmo assim será designado como náufrago. O pecador salvo não é mais pecador, mas continuará sendo designado pecador, porém é um dos filhos de Deus.



Desta maneira visualizamos dois momentos na existência do homem quando é alcançado pela graça de Deus: o antes pertence ao velho homem e o depois ao novo homem, isto falando da natureza herdada em Adão, e da natureza herdada do último Adão, que é Cristo
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante” I Co 15. 45.
Para entendermos as questões pertinentes à bênção e graça faz-se necessário divisarmos bem o antes e o depois do novo nascimento conforme o ensinamento de Cristo a Nicodemos:
“...aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” Jo 3. 3.
A graça de Deus é destinada ao velho homem, e a bênção de Deus é concedida ao novo homem. Como? Observe:

a) a graça de Deus manifestou-se a todos os homens
“...por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” Rm 5. 18.;
b) a graça de Deus é oferta de redenção a todos os homens “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” Tt 2. 11, ou seja,
c) a graça de Deus tem como alvo o velho homem
“Que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” I Tm 2. 4.
O que se manifestou? A graça de Deus, ou seja, Cristo manifesto trouxe salvação a toda humanidade. A graça de Deus revelou-se e trouxe salvação aos homens que habitavam nas regiões das trevas
“O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz” Is 9. 2.
Antes de o homem ter um encontro com Cristo por meio da fé, a salvação de Deus é manifesta por graça, favor imerecido de Deus concedido ao homem perdido.
Ou seja, Cristo morreu por causa de nossos pecados, e ao crermos nele nos tornamos participantes de sua morte. Cristo ressurgiu para a nossa justificação, ou seja, após ressurgirmos com Cristo, somos declarados justos diante de Deus.
A graça de Deus tem justificado o homem por meio da morte de Cristo, e após a justificação, somos feitos herdeiros.
Conclui-se que a graça de Deus refere-se a velha criatura, que por estar morta em delitos e pecados, vendida como escravo ao pecado, e que por natureza é filho da ira, necessita de tão precioso resgate gracioso.

“Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros segundo a esperança da vida eterna” Tt 2. 11.
Não são porventura todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação?” Hb 1. 14.
Por outro lado a bênção de Deus é pertinente ao novo homem. O novo homem surge na regeneração sendo criado, segundo Deus, em verdadeira justiça e santidade. Estes são por natureza filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo
“Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” Gl 3. 26- 27.

O versículo três é a chave para entendermos o capítulo um de Efésios.
Primeiro temos que considerar o contexto: louvor, agradecimento pelas bênçãos concedidas.
Não podemos esquecer que a carta foi escrita a cristãos, e que, portanto, não se ocupa em pregar ou explicar o evangelho. A carta se ocupa em apresentar aspectos e pontos específicos do evangelho.
Ao escrever este capítulo Paulo não se ocupa em descrever as questões pertinentes a graça de Deus que envolve o velho homem. Antes ele se ocupa de questões pertinentes ao novo homem, e por isso Paulo se ocupa em agradecer e falar das bênçãos de Deus.
Paulo não se mantém isolado dos destinatários ao falar das bênçãos recebidas. Ele se inclui entre aqueles que foram abençoados, o que demonstra duas coisas:

a) Ele estava falando de questões pertinentes ao novo homem, e;
b) da nova condição daqueles que estavam em Cristo.

Verifica-se que Paulo está falando do novo homem por ele estar bendizendo por bênçãos já recebidas, principalmente por ele enfatizar que todos eles estavam em Cristo. Estar em Cristo fala da condição necessária para ser uma nova criatura.
No capítulo dois, versículo seis, Paulo volta a falar da condição alcançada após a ressurreição com Cristo.
 

4  Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;
Paulo passa a descrever as bênçãos recebidas da parte de Deus que o levou a bendizer.

Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor;

a) Como também: a ação de abençoar através da eleição é exclusivamente de Deus. Foi Deus quem abençoou os cristãos com a eleição.
b) nos elegeu nele:
a) Considerando que Paulo estava escrevendo sobre as bênçãos recebidas;
b) Considerando que Paulo estava louvando a Deus;
c) Considerando que Paulo estava escrevendo sobre aspectos pertinentes aos cristãos (nós);
d) Considerando que os méritos e qualidades estão presentes em Cristo;
e) Considerando que a estrutura de texto é semelhante ao Salmo 103;
f) Considerando que a carta foi escrita a cristãos.
Estes elementos combinados demonstram que Paulo escreveu sobre o que é pertinente ao novo homem, aqueles que já estavam em Cristo (nele = em + Cristo).
Quando o apóstolo Paulo diz que Deus nos elegeu, ele utiliza o verbo no pretérito perfeito, o que indica algo concluído, que eles já estavam de posse da bênção. Isto demonstra que o cristão é um eleito, ou seja, já estamos no exercício da condição para qual fomos eleitos: santos e irrepreensíveis.
Paulo não quis demonstrar um processo de escolha, onde alguns são escolhidos e outros não. Para demonstrar as garantias decorrentes do evangelho, Paulo enfatiza que somos os eleitos de Deus (somos santos e irrepreensíveis). Aqueles que nascem da vontade de Deus, já nascem santos e irrepreensíveis, ou seja, de posse da bênção divina.  
Se Paulo estivesse fazendo referência neste versículo a uma possível escolha dentre aqueles que estão vendidos ao pecado (velho homem), ele faria referência a graça de Deus, que foi direcionada a todos os homens.
“Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” Ef 2. 5.
Mas não, ele fala de bênçãos recebidas, o que é pertinente àqueles que estão em Cristo, e que, portanto, são regenerados, são filhos de Deus.
É pela graça que o pecador alcança a salvação, e não por meio das bênçãos concedidas
“Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça...” Ef 1. 7.
A graça é para a salvação, mas a eleição não é para a salvação; a eleição é para aqueles que se encontram em Cristo (nos elegeu em + ele = em Cristo).

c) Antes da fundação do mundo: Paulo apresenta a data em que se deu a eleição: antes que o mundo fosse fundado. Esta declaração de Paulo não pode ser interpretada extensivamente. Observe que em momento algum ele fala da presciência de Deus. Não é porque a eleição foi realizada antes da fundação do mundo que podemos arrematar que a eleição decorre da presciência de Deus. Os atributos de Deus não podem ser considerados isoladamente, mas a informação que Paulo nos deixou nesta parte do versículo restringe-se ao tempo em que Deus realizou a eleição.

d) para que fossemos santos e irrepreensíveis diante dele...: A eleição foi realizada com um objetivo pré-definido: a santidade e irrepreensibilidade dos cristãos! Ou seja, a escolha de Deus resultou em santidade e irrepreensibilidade. Santidade e irrepreensibilidade são características pertinentes à nova criatura conforme o que atesta o apóstolo Paulo:
“E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” Ef 4. 24
. O velho homem não foi eleito para ser santo e irrepreensível pelos seguintes motivo:


• A bênção de Deus destina-se aos cristãos (nova criatura) que foram gerados em Cristo, enquanto que a graça de Deus revelada destina-se aqueles que ‘habitavam as regiões das trevas’;
• O velho homem não pode ter sido eleito para ser santo e irrepreensível, visto que há uma necessidade premente a todos os homens: nascer de novo!
• O velho homem é culpável, nasceu sob a égide do pecado, é inimigo de Deus, e tudo isso por não estar em Cristo. A eleição, segundo Paulo, foi realizada em Cristo, e todos aqueles que nele estão foram eleitos. Ressurgir com Cristo como eleito de Deus é bênção, pois fomos agraciados ao morrermos com Cristo!
• O novo homem (aquele que não é nascido da vontade da carne, da vontade do varão e do sangue, mas da vontade de Deus), este é eleito, pois está em Cristo.
• Por ser criado segundo Deus; por estar em Cristo, só aqueles que são regenerados é que podem alcançar a condição de eleito. Ou seja, só após a regeneração é que o homem alcança a bênção de ser santo e irrepreensível.

Este é o motivo de Paulo estar louvando a Deus: Ele e os destinatários da carta haviam recebido todas as bênçãos espirituais, e alcançaram a condição diante de Deus de serem santos e irrepreensíveis.

Estamos falando de dois momentos na vida do homem que teve um encontro com Cristo: o velho e o novo homem.
Como vimos até agora, há o velho e o novo homem; há a velha e a nova natureza; só é possível ver o reino de Deus após nascer de novo, e; que o novo homem é criado segundo Deus.

Resta analisarmos também os termos: eleição e eleitos.


A palavra eleição nos remete aos seguintes aspectos:


A palavra escolha ou eleição aponta um processo para algum fim.
Está é a idéia presente neste termo: alguém só é escolhido para um objetivo pré-definido.
Se retirarmos qualquer elemento pertinente ao processo de escolha, não existe escolha. Observe:

a) se não houver um objetivo pré-definido a executar não existe escolha;
b) se não houver alguém a ser escolhido, não haverá escolha;
c) se não houver um critério para a escolha, não haverá escolha, e;
d) se houver a escolha haverá o antes e o depois.


Já a palavra eleito nos remete ao seguinte aspecto:

Eleito é a posição que alguém adquire após o processo de eleição.
Antes da eleição não há pessoas na posição de eleitas, só há candidatos. Após a eleição e que haverá os eleitos.
Quando se faz referência a condição de eleito se está evidenciando aspectos como: exercício da posição alcançada, as garantias que envolve a condição.
Quando Paulo escreveu que Deus nos elegeu, ele quer demonstrar que em Cristo estamos na condição de eleitos, e que já estamos gozando da irrepreensibilidade e da santidade. Já estamos de posse da bênção, e por isso mesmo ele louva a Deus que nós abençoou.

Temos duas palavras e dois conceitos diferentes a analisar.
Ao analisarmos os quatro aspectos que compõem a idéia entorno da palavra eleição, teremos o quadro seguinte:






Se pensarmos que a eleição bíblica é segundo o esquema gráfico acima, incorreremos em erro! Por que? Porque daremos ênfase aos aspectos que envolve o conjunto “A”.
Por Paulo estar louvando a Deus pelas bênçãos recebidas, isto demonstra que ele quer evidenciar os aspectos que envolvem o conjunto daqueles que foram eleitos, ou seja, os eleitos. A existência do conjunto “B” é o que motivou Paulo a bendizer a Deus
“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo...” Ef 1. 3.
Ao dar ênfase aos aspectos que envolvem o conjunto “A” estaremos preso as seguintes questões: Por que eu sou escolhido e fulano não?; Quais as garantias de que eu sou um eleito? Qual o critério que Deus utilizou para escolher? Qual o objetivo de Deus escolher só alguns, e o restante não?
Outros analisarão os atributos de Deus e questionarão: Qual o critério utilizado para que Deus escolhesse aqueles que seriam santos e irrepreensíveis se ele ama a todos? O que faz diferente os pecadores diante de Deus se para ele não há acepção de pessoas?
Sabemos que Deus não faz acepção de pessoas
“Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas” Rm 2. 11.
A bíblia nos informa que Deus ama a humanidade como um todo
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3. 16.
Como conciliar os dois versículos acima com a idéia que Deus escolhe dentre os perdidos as pessoas que serão salvas?

Observe que é diferente afirmar que Deus elegeu algumas pessoas para serem salvas do que Paulo escreveu: Deus nos elegeu para sermos santos e irrepreensíveis, e não para sermos salvos.
A afirmação do apóstolo refere-se especificamente aos cristãos e a condição que eles alcançaram após a regeneração: foram criados segundo Deus em verdadeira justiça e santidade. Já os reformadores passaram a afirmar que Deus escolhe dentre a humanidade (escolha entre ‘a’ e ‘b’), pessoas para serem salvas, o que contraria a idéia presente na graça de Deus. A salvação que é por graça, e não por eleição.

E como se deu a eleição dos salvos?
“Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” II Tm 1. 9.  
















Observe o desenho acima para entender o que Paulo escreveu aos cristãos:




Ao escrever a Timóteo, o apóstolo Paulo demonstra que primeiramente Deus nos salvou e que após nos elegeu. Quando Paulo afirmou a Timóteo que Deus os salvará, ele estava enfatizando que eram salvos; Ao falar que Deus nos salvou, é o mesmo que dizer: estamos salvos.
Da mesma maneira ao falar ‘nos elegeu’, significa que somos eleitos, ou seja, que estamos de posse das bênçãos concedidas. Bendito seja Deus!
Isto demonstra que ao escreve aos cristãos em Éfeso Paulo procurou enfatizar a condição de eleitos de Deus na qual eles estavam. Por isso ele inicia o tópico louvando a Deus pelas bênçãos recebidas.
Paulo demonstra que antes mesmo de existirmos, Deus já havia providenciado por meio de Cristo bênçãos espirituais, e que agora eles estavam de posse destas bênçãos.
Deus não faz acepção de pessoas, o que demonstra que todos aqueles que são recebidos por filhos passam a ter as mesmas condições que o Filho amado. Também são eleitos.
Por fim, verifica-se que os salvos é que são eleitos. Não há como os perdidos serem eleitos. Só os salvos é que são santos e irrepreensíveis diante de Deus.
Observe as análises:

a) Quem são os eleitos? Paulo responde: nós! Como Paulo fala de algo que ocorreu no passado, segue-se que os que foram escolhidos em Cristo, hoje são designados eleitos. Quando Paulo fala que ‘nos elegeu’, ele demonstra que os cristãos (os salvos, aqueles que nasceram de novo), é que são os eleitos, e não aquele que ainda se encontra no pecado. Temos definido aqui quem foi eleito: os cristãos por estarem em Cristo.
b) Qual o objetivo pela qual Deus ‘nos elegeu’? Paulo responde: para que fossemos santos e irrepreensíveis. Os perdidos não foram escolhidos para este mister, mas os cristãos é que foram eleitos para serem santos e irrepreensíveis diante de Deus (nos elegeu! ‘Nos’ quem? ...nós, os que primeiro esperamos em Cristo). Aqueles que não esperam em Cristo não são os eleitos de Deus
“...nós os que primeiro esperamos em Cristo” (v. 12).
c) Qual o critério da escolha dos que estão em Cristo? A pessoa de Cristo. Os cristãos foram escolhidos com base em Cristo. Cristo é o eleito de Deus antes mesmo da fundação do mundo
“Eis aqui o meu servo, a quem sustenho, o meu eleito, em quem se apraz a minha alma; pus o meu espírito sobre ele; ele trará justiça aos gentios” Is 42. 1.
Cristo é o santo de Deus; Ele é o justo. O cristão por ser participante de Cristo passa a ser santo e irrepreensível diante de Deus. Cristo é a base da nossa eleição, e por ele ser a base, não havia a necessidade de existirmos, mas a escolha já estava definida: todos os que nascerem de Deus passam a ser santos e irrepreensíveis. O cristão nem mesmo existia quando se definiu quem seriam os eleitos, e agora, após serem conhecidos por Deus os ‘novos homens’ passam a ser santos e irrepreensíveis.
d) Antes da fundação do mundo já estava definida a eleição; não há mérito por parte dos eleitos, visto que nem mesmo existiam. Com relação quando ocorreu a eleição só a pessoa de Cristo participou; após nascermos de Deus, nós nos tornamos participantes das bênçãos restritas aos filhos de Deus: somos santos e irrepreensíveis.


O apóstolo Paulo em momento algum aponta uma escolha entre os perdidos que os conceda a condição de santos e justos diante de Deus.
Se Deus nos elegeu no passado em Cristo, hoje somos eleitos, estamos de posse das prerrogativas para qual fomos eleitos.
Basta nascer de novo por meio de Cristo que o homem estará na condição de eleito de Deus.
Sobre o propósito eterno de Deus ao escolher a Cristo, veremos nos próximos versículos.

 
5  E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
Os parâmetros de interpretação utilizados no versículo anterior são totalmente válidos neste versículo:

“E nos elegeu nele (...) para que fossemos santos e irrepreensíveis...”
“E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo...”
Observe:

• O contexto demonstra que Paulo estava louvando a Deus por bênçãos recebidas.
• A carta foi remetida a cristãos, ou seja, pessoas que conheciam e professavam o evangelho.
• Os dois versículos utilizam o verbo no pretérito perfeito.
• Os dois versículos demonstram que eles haviam adquiridos as bênçãos em Cristo.  

Mas, para que o entendimento do texto seja pleno, utilizaremos uma outra abordagem para melhor elucidar o texto, sendo que ela também poderá ser aplicada no versículo anterior.

O apóstolo aponta uma outra bênção adquirida por aqueles que estão em Cristo: a predestinação.
Paulo continua demonstrando que ele e os cristãos de Éfeso eram alvos das bênçãos de Deus. Se houver dúvidas sobre quem são os predestinados, basta perguntar: Quem são os predestinados? E Paulo arremata: nós! Nós quem? Paulo e os santos que estavam em Éfeso.
Segue-se que a predestinação é bênção da parte de Deus para aqueles que foram regenerados e por isso estão em Cristo.
Mas, como ter certeza de que a predestinação não é direcionada aos perdidos? Como ter certeza que a predestinação é exclusiva daqueles que estão em Cristo?

1º) Devemos observar atentamente a relação que Paulo estabelece entre a primeira pessoa do plural do caso reto “nós” e a segunda pessoa do plural do caso reto “vós”;
2º) Não podemos nos esquecer que Paulo era um Judeu que se tornou cristão, e os cristãos de Éfeso eram gentios que se converteram ao evangelho; JUDEUS E GENTIOS são povos distintos, mas em Cristo são um (passaram pelo novo nascimento), o que explica também porque Paulo ao se referir à sua condição anterior, não se une aos efésios na narrativa.
3º) De posse destas duas informações iniciais, verifica-se que Paulo ao falar das bênçãos divinas concedidas aos cristãos, ele se inclui na narrativa
“E nos elegeu (...) E nos predestinou...” Ef 1. 4 e 5.
Mas, ao falar da condição dos cristãos gentios quando eles ainda estavam no pecado, Paulo utiliza o “vós”:
“Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados...” Ef 2. 1.
4º) Observe o que Paulo escreveu aos Gálatas:
“Nós somos judeus por natureza, e não pecadores dentre os gentios” Gl 2. 15.
Paulo evidência uma diferença sutil entre ser pecador dentre os gentios e pecador dentre os judeus para expor uma verdade crucial do evangelho: Nós os Judeus não somos justificados pelas obras da lei.
5º) Na carta aos Efésios esta diferença é mais sutil, mas contrasta com o resultado após o encontro com Cristo: A paz entre ambos os povos! Por isso, ao falar dos cristãos gentios no pecado, Paulo utiliza o vós; ao fazer referência a TODOS os filhos da desobediência, Paulo se inclui, demonstrando que no passado, sem Cristo, tanto Judeus quanto gentios eram filhos da ira
“Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.” Ef 2. 3.
6º) Ao falar da salvação, Paulo em momento algum faz referência a eleição e predestinação, mas ao amor e graça de Deus. Todos eram filhos da ira (judeus e gentios), mas o amor de Deus alcançou a todos através de sua maravilhosa graça.

Toda a análise demonstra que Deus predestinou os salvos, aqueles que eram cristãos e que Paulo se incluiu na narrativa:
“E nos predestinou...”
, ou seja, nós, os cristãos, somos predestinados por Deus para sermos filhos por adoção.
Haveria como os perdidos serem filhos de Deus por meio da predestinação? Não! Se não houver a regeneração por meio da graça do evangelho, homem algum será recebido por filho de Deus. E o homem só é recebido por filho de Deus quando se encontra em Cristo.
Estar em Cristo é a condição necessária para ser predestinado para ser filho por adoção.

Mas, o que é ser predestinado? Qual a idéia que a palavra ‘predestinado’ introduz?

Predestinar significa tem o sentido da palavra grega prooriso, determinar previamente ou antecipadamente.
A idéia secular a respeito da predestinação aponta para destino, carma, sem opção de futuro, etc. Para o entendimento natural, todas as pessoas possuem um destino pré-definido.
Em contra partida, a bíblia demonstra que só os que estão em Cristo é que são predestinados. O restante da humanidade, diante da bíblia, não nascem predestinados.
Todos os homens ao nascerem, nascem na condição de filhos da ira, mas em momento algum a bíblia os designa como sendo predestinados. Por que? Porque a todos os homens há a opção de decidirem pela graça de Deus. Ninguém nasce predestinado à perdição. Todos possuem uma opção: a graça de Deus!

Agora, por que Paulo diz que os cristãos foram predestinados por Deus? Porque para aqueles que estão em Cristo não existe opção de escolha: todos serão filhos por adoção. Como? Em momento algum Paulo diz que Deus predestinou alguém a salvação. Paulo diz que Deus predestinou os cristãos a serem filhos por adoção.
Se Deus houvesse predestinado alguém a salvação, seria o mesmo que dizer que ele predestinou o restante a perdição. Mas é fato: Para aqueles que aceitaram a graça de Deus oferecida por meio do evangelho, estes serão filhos de Deus.

Alguns alegam que a eleição é um ato de escolha e que a predestinação diz respeito ao fim para essa escolha. Mas o texto não diz isto. Paulo diz que o fim para eleição é a santidade e irrepreensibilidade. A predestinação tem um objetivo bem claro: a filiação divina.

A eleição e a predestinação devem ser vistas como bênçãos garantidas por Deus. Paulo procurou evidenciar a segurança da salvação em Cristo por meio de termos que demonstram a posse das bênçãos espirituais.

E nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,

Observe que Deus, segundo a sua vontade quer filhos para si. Paulo demonstra que a vontade de Deus não é outra senão que por meio de Cristo sejamos seus filhos.


Continua...

Claudio

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EDITADO


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