Quando os abraços chegam tarde demais

[Raquel_Pereira]

QUANDO OS ABRAÇOS CHEGAM TARDE DE MAIS


No dia dos pais, em 1995, Roy finalmente estava com sua família reunida. Ganhou presentes, um almoço em grande estilo, fotos no quintal e longas conversas com seu filho e sua filha. Ele caiu na piscina com seu netinho. Todos se abraçaram na hora de se despedir.
Roy sempre fora uma pessoa pública. Na verdade, ele se tornara muito famoso por defender a família. E agora, no quintal com sua família, a realidade finalmente pareceu igualar-se à retórica de todos àqueles anos.
Nem sempre fora assim.
O filho de Roy, Mike, lembra-se bem demais do dia de sua formatura do segundo grau. Seu pai fora convidado para fazer o discurso aos formandos, e ao final, ele foi cumprimentar os formandos. Mike aguardava, orgulhoso, com sua beca de formatura. Seu pai dirigiu-se a ele e disse: "Meu nome é Roy, e o seu?"
O pai de Mike desaparecera de sua vida após um divórcio traumático. Mike cresceu sem a figura do pai. Mais tarde, ele escreveu um livro amargurado sobre seus pais, pessoas que não tiveram capacidade de mostrar afeto.
Havia também a filha Penny. Ela acabou escrevendo três livros desmascarando sua família. Ela escreveu que a mãe, segunda mulher de Roy, era uma viciada em remédios, e descreveu o pai, Roy, como frio e distante.
Penny mudou seu sobrenome para fugir da sombra do pai famoso. Ela lutou contra a anorexia e também envolveu-se em relacionamentos desastrosos.
Com os anos, Mike e Penny acabaram se afastando completamente dos pais. Haviam recebido pouquíssimo amor em seu lar.
Finalmente, porém, naquele dia dos pais em 1995, o amor chegou. Havia um senso de reconciliação enquanto posavam para as fotos no quintal.
Apenas um detalhe estragava a cena familiar. Roy estava morrendo. Ele perdera a memória. Seus familiares tinham que gritar em seu ouvido para serem ouvidos. Roy falava e sorria, mas nem sempre sabia com quem.
Naquele dia dos pais houve muitos abraços, mas Roy nem sempre sabia quem estava abraçando. Seus filhos finalmente tinham um pai que demonstrava algum afeto, mas Roy nem sempre lembrava seus nomes. Os abraços, chegaram tarde demais.
Todos sabem que uma das coisas mais importantes é a família. As famílias nos moldam como seres humanos. Não há nada mais importante que o carinho que um pai ou uma mãe podem dar. Precisamos fazer todo o possível, como sociedade para salvar a família, para que ela seja unida.
E as pessoas cujas famílias falharam? Que dizer de tantas pessoas que não tiveram o carinho dos pais? O que se faz quando os abraços chegam tarde demais?
É uma pergunta importante. Todos nós somos muito influenciados pelo que acontece em nossa infância. Carregamos tudo isto conosco. É uma bagagem com a qual temos que lidar. Muitos de nós passam a maior parte da vida reagindo ao que aconteceu na infância. Nem todos escrevem biografias amarguradas, ou mostram sua ira de forma pública e rebelde, mas sempre há alguma reação.
Uma das coisas mais importantes na vida é o seguinte: como lidamos com o nosso passado? Como o superamos? Ficamos marcados pelas coisas ruins que aconteceram? Ficamos procurando o amor nos lugares errados? Ou será que encontramos uma outra fonte de amor?
E agora voltamos à busca por outra fonte positiva de carinho. Hoje eu gostaria de sugerir uma forma diferente de superar o passado e viver uma vida melhor.
Não quero dizer que seja algo fácil que você possa fazer nos próximos 20 minutos. Uma família complicada afeta nossa habilidade de receber amor. Fica difícil receber o tipo certo de amor na idade adulta. Fica difícil amar.
Superar tudo isso é um enorme desafio. Mas eu gostaria de falar com você sobre um aliado que você talvez tenha esquecido. Quero lhe falar sobre uma fonte de amor que você pode até ter ignorado.
O plano original de Deus foi nos dar amor através de nossas famílias. Foi assim que Ele planejou a vida. Deus revela-se a nós através do amor de uma mãe e pai. Deus criou a família como um perfeito e seguro ambiente, onde o ser humano se tornaria um adulto saudável.
Mas, você sabia que o próprio Deus tem um plano alternativo? Sabia que Deus tem uma opção para quando as coisas não dão certo?
É uma alternativa emocionante, incrível, e quero lhe mostrar o que é. Podemos encontrá-la em Salmos 27. O salmista está falando sobre seu desejo de comunhão íntima com Deus. Veja o que ele diz em Salmos 27:10: "Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá."
O que este verso está dizendo? Quando a nossa família humana falha, quem toma conta de nós? O próprio Deus. Ele se oferece para cuidar de nós. Se oferece para ser um pai.
Que bela promessa! Que belo plano alternativo!
Vamos nos certificar de que entendemos bem. Veja o que diz Salmos 68:5, sobre o plano opcional de Deus, sua alternativa: "Pai dos órfãos e juiz das viúvas é Deus em sua santa morada."
Como o Todo Poderoso se identifica? Como um pai para os órfãos.
O próprio Jesus nos dá esta mesma certeza. Através de Seu ministério Ele identificou a Deus como o nosso pai celestial. Ele é o Pai que sabe como dar a Seus filhos boas dádivas.
Infelizmente, porém, pessoas de lares complicados têm dificuldade em receber estas dádivas. É trágico, mas por não receberem amor na infância, é difícil viverem o amor como adultos.
Ouça esta maravilhosa promessa do apóstolo Paulo em Romanos, 8:15 e 16: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: 'Aba, Pai.' O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus."
Os problemas em nossas famílias geralmente nos deixam presos ao medo; a insegurança nos segue por toda a parte. Mas Deus se apresenta e se oferece para nos adotar. E faz mais. Ele nos oferece o "Espírito de adoção." O Espírito pode nos ajudar a perceber no nosso íntimo, que somos realmente filhos de Deus. O Espírito pode mover-se em nós e exclamar: "Aba!" "Papai! O Espírito pode nos ajudar a absorver o amor incondicional de um Pai celestial. Precisamos demais disso quando estamos lutando para superar um passado desestruturado.
Este é o plano opcional de Deus. No princípio Ele planejou revelar Seu amor através de famílias amorosas. Mas quando isto não é possível, Ele pode revelar-Se diretamente; como um carinhoso Pai celestial, dando-nos o espírito de adoção.
Pense por um momento no que isto significa.
Digamos que você seja uma criança que gostaria de aprender a jogar basquete. Você não é um bom atleta. Mas está cansado de ser o último a ser escolhido para os times. Então você pede aos jogadores conhecidos para lhe ensinarem boas jogadas. Finalmente, um professor da escolinha de basquete aceita treinar você.
Ele marca um encontro no ginásio, domingo à tarde. Então você chega lá, cheio de vontade, à uma da tarde. E você espera. Mas o professor não aparece. Ele o enganou.
Você fica super desapontado. Justo quando você está saindo, um atleta de mais de dois metros de altura, magro, musculoso, entra no ginásio. Ele está com a camisa 23.
O homem corre, driblando com a bola, pula da linha dos três pontos e dá uma enterrada impressionante. Depois vira para você e diz: "Oi! Infelizmente o professor de basquete não veio. Eu sou o Michael Jordan. Tem problema se eu treinar você em vez do professor?"
Você está boquiaberto. Se tem problema? Claro que não! Acho que o Michael Jordan seria uma alternativa muito boa! Uma excelente alternativa!
Amigo, seus pais podem ter desapontado você, mas o Pai celestial promete ser seu Pai; esta é uma boa notícia. Ele é o melhor Pai do mundo que oferece Seu carinho e integridade. Ele tem as melhores dádivas que qualquer pai terreno poderia oferecer.
Há mais benefícios ainda no plano divino. Deus ainda faz mais por nós quando os abraços chegam tarde demais.
Veja Deus falando através do profeta Isaías 49:15 e 16: "Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei..."
O inconcebível pode até acontecer. Uma mulher poderia abandonar seu bebê de colo. Mas Deus nunca esquece. Ele promete escrever nossos nomes em suas mãos.
Este texto está nos dizendo que Deus pode nos dar o amor de uma mãe. Ele é o nosso Pai que está nos céus. Mas Ele também tem todo o carinho e a compaixão de uma mãe.
Sua mãe desapontou você? Ela era fria e distante? Deus tem um plano alternativo. Deus promete nos confortar "como alguém a quem sua mãe consola." (Isaías 66:13).
Salmos 131 descreve como pode ser a confiança em Deus. O verso dois nos dá esta visão. "... Fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo." (Salmos 131:2).
Uma criança, segura nos braços de sua mãe, apertada contra o peito. Que ilustração! Esta é a ilustração que Deus está nos dando. Ele está dizendo: "É isto que eu posso ser para você."
Mas ainda há mais.
Ezequiel 16 traz uma descrição dramática de uma neném que foi abandonada no campo, rejeitada, odiada desde o dia em que nasceu. Mas Deus passa ali e a vê. E Ezequiel diz o seguinte: "... Estendi sobre ti as abas do meu manto... dei-te juramento e entrei em aliança contigo... e passaste a ser minha... te vesti cingi de linho fino, e te cobri de seda... coloquei-te [uma] linda coroa na cabeça." (Ezequiel 16:8, 10 e 12)
Esta é uma ilustração de Deus como um amante apaixonado. Ele nos acalenta como um noivo acalenta sua noiva. Os profetas muitas vezes descrevem a Deus sofrendo por seu povo infiel como um amante ciumento. Jesus deu-Se a Si mesmo pela igreja, como um marido dando a vida por sua esposa.
Aqui está mais um aspecto do plano alternativo de Deus. Você foi rejeitado por seu cônjuge? Provavelmente sente-se malquisto, desanimado, arrasado, isolado, sozinho. Talvez sinta-se rejeitado. Deus quer escolher você para ser Dele; Ele quer cobrir você com seda, e colocar uma coroa em sua cabeça.
Deus é mais apaixonado e dedicado que qualquer amante da terra. Tudo que precisamos encontramos Nele.
Ao descrever o ministério de Jesus como homem na terra, o autor de Hebreus descreve como o Salvador foi aperfeiçoado no sofrimento. E ele diz, em Hebreus 2:11: "Pois, tanto o que santifica como os que são santificados, todos vêm de um só. Por isso, é que ele não se envergonha de lhes chamar irmãos."
Mais adiante lemos: "... em todas as coisas [se tornou] semelhante aos irmãos." (Hebreus 2:17).
Jesus assumiu nossa natureza humana. Ele foi tentado e provado como nós somos.
O que isto significa? Jesus se tornou nosso irmão. Ele não apenas tem compaixão como um pai. Ele sofreu conosco como um irmão. Ele sabe exatamente o que estamos passando. Ele entende.
Jesus é nosso irmão no céu.
Amigo, quando entendemos estas coisas sobre Deus, tudo que podemos dizer é: que família! Temos uma família em Deus! Uma família completa! Quem sabe nos faltou a lealdade de um pai. Quem sabe nos faltou a compaixão de uma mãe. Quem sabe nos faltou a intimidade de um cônjuge ou irmão, ou irmã.
Mas há uma família completa em Deus, e Ele pode revelar-Se diretamente. Ele pode nos ajudar como pai, como mãe, como amante, como irmão.
Dennis não apenas teve um pai que o decepcionou. Ele foi criado por um homem que lhe deu uma visão totalmente distorcida da pessoa de Deus. O pai de Dennis agredia os filhos e os humilhava. Em vez de histórias na hora de dormir, ele lia capítulos de Deuteronômio que alistam maldições para os desobedientes.
Dennis chegou à adolescência revoltado contra o autoritarismo de seu pai. Ele rebelou-se contra a religião fanática dele. Mas, parecia-se com ele em muitos aspectos. Ele acabava discutindo com todos com quem entrava em contato. Tinha uma enorme necessidade de estar certo todo o tempo.
Foi então que Dennis encontrou algo que o acordou. Ele leu passagens dos Salmos sobre o cuidado do Pai celestial, alguns dos mesmos versos que lemos hoje. E ele começou a sentir-se atraído por este Deus. Talvez, Deus fosse completamente diferente de seu pai. Talvez ele estivesse tentando servir um tirano exigente que na verdade não era Deus.
Dennis começou a ler a Bíblia sob uma perspectiva diferente. Descobriu o evangelho que Paulo descreveu em suas epístolas. O fato de que Deus poderia aceitar um indivíduo completamente, somente com base no que Cristo fez na cruz, parecia um inacreditável amor. Deus era bondoso. Um Deus assim podia amar.
Dennis começou a entender e aceitar mais e mais o evangelho da graça. Levou tempo. Nossos hábitos e atitudes compulsivos não desaparecem imediatamente. Mas com o tempo, Dennis tornou-se um milagre vivo.
Ele descobriu em Deus as qualidades de um pai amoroso, uma mãe afetuosa, um amante apaixonado e amigo compreensivo.
Ele tornou-se um pai amoroso de um menino e uma menina, dois filhos que eu sei que o amam muito.
Dennis é o tipo de pai que as crianças gostam de abraçar antes de ir dormir.
Ele é o tipo de pai que faz sua filha sentir-se linda, porque ele lhe diz quão especial ela é todos os dias. Ele é o tipo de pai cujo exemplo seu filho pode seguir, porque Dennis ensina pelo exemplo. Dennis não aprendeu nenhuma destas coisas com seu pai terreno. Ele não aprendeu como amar com seu pai.
Dennis tornou-se um pai amoroso e carinhoso por causa do plano alternativo de Deus. Deus tornou-se o pai de Dennis. Ele nutriu este jovem através do evangelho da graça, e Deus foi um bom pai. Deus foi um ótimo pai. Ele reproduziu Seu amor de pai num indivíduo que deveria ter crescido reprimido e amargo.
Os abraços de Deus não chegaram tarde demais. Os abraços de Deus chegaram a tempo.
Você já experimentou o amor de Deus, o pai? Você já descobriu que existe uma família em Deus? Há uma família para você.
Deus pode ser seu Pai celestial se os seus pais biológicos o desapontaram. Você tem uma escolha a fazer. Você pode continuar carregando toda a amargura, toda a bagagem, preso à mágoa, raiva e insegurança. Pode continuar apegando-se ao negativo. Ou pode entregar tudo isto a Deus, o Pai; Deus, a família. Você pode usar a dor do seu passado para chegar cada vez mais perto Dele.
Pode não ser fácil. Mas você pode absorver o amor incondicional de Deus, investindo num relacionamento com Ele. Procure a Deus, o Pai, na Bíblia. Veja como Jesus lhe mostra como Deus é. Medite nas cenas da vida de Cristo. Medite nos Salmos que falam do amor de Deus. Responda a Deus em oração; abra seu coração a Ele.
Faça o investimento. Vale a pena. Vale a pena ter Deus como Pai. Acredite, amigo, Ele é o Pai mais maravilhoso do mundo.
Por que não abrir seu coração ao amor do Pai celestial, agora mesmo, em oração?

ORAÇÃO

Oh Pai querido! Obrigado porque naquela história que conta a ressurreição da filha de Jairo, a cura da mulher com hemorragia, nós podemos encontrar a Tua maravilhosa resposta para o drama que, muitas vezes, enfrentamos nesta vida.
A cada passo estamos diante da violência, diante da morte de um ser querido, diante da morte espiritual de um filho, diante da morte de nosso casamento, de nossa empresa. Quantos sonhos destruídos, quantos planos que acabaram no lixo. Mas neste momento queremos clamar pelo milagre da ressurreição. Foste capaz de ressuscitar a filha de Jairo; não será capaz de ressuscitar-nos hoje? Não será capaz de ressuscitar nossos sonhos e planos? Responde Pai! Em nome e pelos méritos de Jesus, amém.

Autor: Pr. Finley

---

› Veja Mais: Quando os abraços chegam tarde demais

[Elda de Oliveira]

Raquel,obrigada pela ilustração....ela fala fundo em nossos corações! Vou usar na proxima aula sobre familia com meus alunos. Deus a abençoe sempre!