MÉDICO DE ALMAS DESPREZADO, SAÚDE ESPIRITUAL COMPROMETIDA.



A HISTÓRIA
Não sabíamos o seu nome. O chamaremos “desprezado”. Sempre o víamos pelas ruas da cidade; nos becos; nas praças. Não se vestia bem. Não fazia barba. Não tinha amigos, nem parentes, não possuía casa, tampouco cama.
Era desprezado. Tinha somente o dia para esperar a noite, e a noite para aguardar o dia. Durante o dia fazia calor, seus velhos panos faziam-no sufocar. E à noite os panos não lhe aqueciam, e passava frio.
Era desprezado. Não mendigava dinheiro, o máximo que fazia era pedir comida para matar sua fome e água para saciar sua sede.
Era desprezado. Quando chegava, as pessoas saíam. Quando falava, não era ouvido. Quando passava, não era notado. Era desprezado.
Mas não era um mendigo qualquer, isso todos sabiam. A maior parte do tempo passava lendo jornais ou revistas antigas. Em seu olhar havia algo diferente. Mas, ninguém queria se aproximar para conhecê-lo melhor. Afinal, seria perca de tempo.


O RESGATE
Passaram-se quase dois anos. Até que sua identidade foi desvendada. Certo dia, uma senhora que estava de passagem pela cidade viu-o de longe e o reconheceu. Era uma amiga da família. Chorou por tê-lo reen-contrado. Sim, ela acabara de rever um dos maiores neurocirurgiões do Estado de São Paulo que estava desaparecido há mais de cinco anos. Ele havia perdido a memória em uma queda e desaparecido do seu lar. Mas agora estava retornando.
Chocante a história? É verídica. Pare e reflita: Quantas pessoas desprezaram aquele homem por não conhecerem. Por suas vestes. Por sua situação financeira. Se soubéssemos que era um grande médico, teríamos dado mais atenção. Levaríamos ele para nossos lares e lhe daríamos abrigo.
Mas não, para nós ele era mais um mendigo. Mais um andarilho sem família, sem cultura, sem religião. Estávamos tão pertos das respostas, afinal ele era médico. Mas, a deixamos passar; por causa do preconceito; por causa do status.


COMPARANDO...
Agora pense em outro médico desprezado. O seu nome é Dr. Jesus. O médico dos médicos. Criador da vida. Foi desprezado. Não fizeram dele caso algum. Se ao menos soubessem quem ele era. Muito mais que um carpinteiro. Mas foi deixado de fora. Se o conhecessem...
Eis um dos motivos pelo qual Jesus veio revestido de humildade: para que os que se chegassem a Ele, o buscassem espontaneamente. Pense: quantos adeptos Jesus teria, se viesse à terra já declarado com Filho de Deus? Ele esteve quase que anônimo sua vida toda.
Era desprezado. Isaías já havia profetizado: “era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.” Escondiam o rosto dele. Porque não o conheciam. Não fizerem caso dele. Porque não o conheciam. Até sua família o desprezou.


MEDITANDO...
E você? Desprezaria o mestre como os demais? O trataria como louco? Como lunático?
Talvez dirá que não. Mas então pense. Você o tem desprezado hoje? Continuamos hipócritas, dizendo que não. Mas pensemos um pouco mais: desprezamos os santos irmãos da congregação, os ditos oradores; desprezamos os que buscam a Deus em verdade, porque são fanáticos. Mas gostamos dos que falam bonito e tem beleza exterior. Possuem boas condições financeiras e têm carros do ano.
O príncipe dos pregadores Charles Spurgeon disse com sua forma eloqüente: “Uma das evidências mais claras da alienação de Deus é a falta de vínculo com seu povo. Num grau maior ou menor, cada um de nós passou por isso. É verdade que há certos cristãos com quem gostamos de estar; contudo, havemos de convir que esse prazer em sua companhia devia-se mais à amabilidade de suas maneiras ou ao estilo cativante de falarem, do que à sua excelência intrínseca. Avaliamos a jóia pelo seus engaste, mas um seixo comum no mesmo anel teria igualmente nos chamado a atenção. Os santos, como santos, não eram nosso amigos diletos, nem podíamos dizer que somos amigos de todos que temem a Deus.”


DE QUE LADO NÓS ESTAMOS?
Como excludente de nosso erro diríamos que temos um grupo que temos mais “afinidades”. Concordo, todavia, quando fazemos uma análise daqueles que temos afinidades, notamos que os menos abonados não estão na lista. Seria isso coincidência? Quando volto no tempo e me situo na palestina da época de Jesus, sou franco em dizer que talvez, quase que certamente, não estaríamos no time de Jesus. Pior ainda, faríamos parte do grupo seleto dos fariseus e vou ainda mais longe me arriscando: negligenciaríamos o mestre e pediríamos sua prisão e morte.
Não gostamos daquilo que é certo, justo e santo demais. A luz ofusca a escuridão dos nossos erros, nossa carne fala mais alto, nossos impulsos dominam. Falamos dos erros dos apóstolos, os acusamos de medrosos, mas nos esquecemos de quão difícil era a quebra dos preconceitos, a mudança da tradição. Abandonar tudo para seguir um carpinteiro não era a melhor proposta de vida para alguém. Largar emprego, família e amigos para seguir um homem que se dizia ser o Filho de Deus era inconcebível.
Meu melhor amigo seria Anás. Afinal tinha prestigio na sociedade. Pedro, o pescador. Ah, nem pensar! Nos finais de semana almoçaria na mansão de Caifás, o sumo sacerdote. Tinha algumas regras antes das refeições, tipo lavar em demasia as mãos; mas isso não tem importância, o que importa é a refeição. Ir na casa de Thiago ou João não poderia mesmo, porque moravam num vilarejo distante.
Sim, seria um hipócrita como os demais. Teria um pé na seita dos fariseus e outro na dos saduceus, mas, por fim ficaria com aquela, pelo grande prestígio.


CONCLUSÃO
A rejeição é capaz de ferir; é capaz de matar. As pessoas não crentes vão à Igreja na procura pela paz. O que encontram? Dissensões, pelejas, ira, grupinhos. Grupinho dos pregadores. Grupinho dos cantores. Grupinho dos tocadores. Grupinho dos santarrões. Grupinho dos desviados. Se tirássemos um raio x da igreja, constataríamos que ela possui mais divisões que um quebra-cabeças, uns desprezando os outros. O que Paulo disse em Filipenses 2:3, não tem muita aplicabilidade. “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”.
Mas deixe-me voltar a história do médico desprezado. Ninguém o conhecia. Até que alguém de sua cidade natal o reconheceu. Alguém que o havia visto de perto. Sabia o tom da sua voz. Compreende? Somente quem é do alto reconhece a voz do Mestre. Somente quem é do alto reconhece o agir do Grande Carpinteiro.
Somente quem é do alto percebe Jesus. Somente quem é do alto, ama o próximo. Não o despreze!



Valmir Nascimento Milomem Santos
Advogado - AD Jardim Paulista, Cuiabá/MT


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