Um hiato nas batalhas entre Saul-Davi foi criado por uma crise filistéia (1 Sm 23:27-28). Após Saul ter respondido militarmente à mais recente agressão filistéia, ele voltou a Gibeá para novamente encalçar Davi, quando a rede de inteligência ou algum informante dele o informou do paradeiro de Davi, ele estava no Deserto de En- Gedi, que significa “fonte das cabras”, nome dado por causa das cabras monteses que habitam a localidade. En-Gadi é uma espécie de oásis, manancial, nas encostas de altos penhascos cortados com barrancos cheios de cavernas.

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Manancial em En-gadi

Saul levou com ele um exército de três mil homens, cinco vezes o número dos que estavam com Davi (cf. 23:13); estes homens eram todos escolhidos, guerreiros e eram especialmente qualificados e corajosos. Levar tal força a um território inospitaleiro indica que Saul não planejou falhar novamente no esforço de matar Davi.
O rei entrou em uma caverna para satisfazer suas necessidades fisiológicas e por “pura casualidade” Davi e seus homens estavam escondidos ali mesmo: “E chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde estava uma caverna; e entrou nela Saul, a cobrir seus pés; e Davi e os seus homens estavam aos lados da caverna.” 1 Samuel 24 Almeida Revista e Corrigida. A expressão “cobrir os pés” é um eufemismo para evacuar os intestinos. Quando um homem se agachava para se aliviar, o roupão cobria seus pés. Ninguém, nem mesmo o guarda-costas pessoal, o acompanharia na caverna para este propósito. A versão siríaca diz que ele entrou na caverna para dormir, mas essa não é nenhuma expressão eufemistica relacionada com o sono. Ela também é utilizada no episódio do rei moabita Eglom que foi assassinado por Eúde quando estava semelhantemente ocupado (Jz 3:24). A versão Vulgata: “ut purparet ventrem”, a Septuaginta, e o Targum entendem isto da mesma maneira. A Lei de Moisés era muito rígida quando o assunto era saúde pública, especialmente em acampamento militares (Dt 23:12-14). Cada soldado era exigido que deixasse o acampamento para se aliviar, e tinham que levar uma pequena pá ou espátula entre as armas, assim poderia cavar um buraco e cobrir o excremento. Isto significou que Saul estava longe do acampamento e bastante vulnerável. Ele quis privacidade naturalmente e sentia que não estava em perigo. Saul entrou na caverna só, desacompanhado para uma evacuação intestinal, ele teve o azar de escolher uma caverna onde Davi e seus homens estavam refugiados na parte de trás, não precisamos insistir que todos homens de Davi estavam na caverna. É estranho que Saul não estava atento que poderia haver homens que pudessem emboscá-lo em tal lugar; os rabinos inventaram uma lenda curiosa para explicar essa segurança de Saul: "Deus, previu que Saul viria a essa caverna, então fez com que uma aranha tecesse uma teia na entrada da caverna; quando Saul percebeu, ele concluiu que nenhuma pessoa havia entrado lá ultimamente, por conseguinte ele entrou nela sem suspeita". Isto pode ser literalmente verdade; e nós sabemos que até mesmo uma aranha na mão de Deus pode ser um instrumento de grande salvação. Esta é uma tradição judia, e uma das mais elegante e instrutiva na coleção inteira deles.
Davi e seus homens discutiram o significado desta ocorrência notável quietamente no fundo da caverna. Os homens asseguraram a Davi que a presença de Saul na caverna era o cumprimento de uma promessa que Deus entregaria Saul nas mãos de Davi. - Mas quando Deus disse isso? Não há nenhum registro de qualquer promessa feita a Davi que Deus entregaria Saul nas mãos dele naqueles dias. Como Deus quer que nós usemos esta ocasião? Os homens de Davi viram isto como uma oportunidade de vingança, enquanto Davi viu isto como uma oportunidade para mostrar misericórdia e provar que o coração dele era correto. Davi soube que o rei infeliz tinha sido rejeitado e abandonado pelo Espírito do Senhor e que o verdadeiro portador da unção real era ele; mas ele não faria justiça com as próprias mãos, ainda considerava Saul como “seu senhor”. Ele deixou o exemplo, muito necessário a todos nós, de deixar Deus levar a cabo os seus propósitos no próprio tempo dele, e esperarmos o tempo do Senhor pacientemente. Ele teve um duro trabalho para impedir os homens dele apressassem a caída do rei; mas pode contê-los.
Talvez quando um motorista louco nos fechar no trânsito fazendo com que usemos os freios para evitar um acidente. Talvez quando você trabalhar duro e o seu chefe desacreditar seu trabalho ou idéias. Talvez quando seu cônjuge o depreciar na frente dos seus amigos, nós nos cansaremos de ser uma vítima, algum dia isso acontecerá com todos nós. E nós vamos quere revidar. Eu suponho que não é errado ficar bravo quando as pessoas nos transformarem em vítimas. Deus entende aquela adrenalina, a face corada, e o sentimento súbito de fúria. Mas nenhuma raiva justifica o direito de revidar. - Não se aborreça, o mundo diz. Dê o troco! O próprio Davi poderia ter sentido dessa maneira. Mas quando Saul inadvertidamente entrou na caverna onde Davi e seus homens estavam escondidos, Davi tinha crescido espiritualmente. Os homens de Davi ficaram entusiasmados. - Veja Davi! Eles sussurraram. Aqui está sua chance! Deus entregou Saul para você! Você o tem agora. Mate-o! Eles puseram um verniz religioso no conselho deles. Davi era muito sábio na verdade da palavra de Deus para interpretar este evento como um sinal para matar Saul, porque a lei dizia: “Não matarás” (Ex 20:13). Matar um inimigo no campo de batalha ou um atacante em legítima defesa era uma coisa, mas assassinar um rei que nem sequer desconfiava era outra coisa totalmente diferente. Os judeus aprendiam desde cedo que não se podia nem mesmo amaldiçoar seus príncipes quanto mais matá-los; amaldiçoar um príncipe era um pecado que estava na mesma categoria da blasfêmia ao nome de Deus: “Contra Deus não blasfemarás, nem amaldiçoarás o príncipe do teu povo” (Êxodo 22:10). Líderes têm que saber como interpretar eventos e responder da maneira certa. A convicção de Davi na inviolabilidade da pessoa do rei era inabalável (24:4-7). A unção que Saul levava, vinha de Jeová e não se podia abrogar senão somente pelo próprio Deus que lhe havia dado. Como desejaríamos que todos pensassem assim com relação ao matrimônio! Aos que Deus uniu, homem nenhum os separe. Da mesma maneira que a batalha contra o filisteu foi considerada como uma competição entre os deuses das nações rivais, assim esta batalha pessoal seria resolvida por Deus a favor da parte íntegra. Davi tratou o rei corretamente, não por causa de qualquer coisa que o rei tinha feito ou poderia fazer, mas por causa do que Deus tinha feito. O respeitava da autoridade humana estava baseado no respeito pela autoridade divina.
Davi não se permitiu desobedecer à ordem de Deus interpretando esta ocasião como uma oportunidade para cometer assassinato. Também controlou a situação corretamente como líder e administrou os homens para não se revoltarem contra o rei deles. Assim, Davi evitou atrair um método humano e confiou o assunto a Deus que possui um melhor julgamento, porque ele temia a Deus: “No temor do SENHOR, há firme confiança, e ele será um refúgio para seus filhos” (Pv 14:26). Ele agiu por fé quando permitiu que Deus lidasse com o inimigo dele. Assassinato político era um precedente muito ruim para um pretendente ao trono empregar (1 Reis 15:25; 16:27). A manutenção de Saul no trono poderia servir como uma extraordinária apólice de seguro para o futuro rei porque provia um argumento contra tentativas futuras de sedição contra a própria vida dele quando ele se tornasse o rei. Um das lições mais duras para nós é esperar, reduzir a velocidade: “Portanto assim diz o Senhor Deus: Eis que ponho em Sião como alicerce uma pedra, uma pedra provada, pedra preciosa de esquina, de firme fundamento; aquele que crer não se apressará” Isaías 28:16. Judá temia aos assírios. Em vez de confiar em Deus, se voltaram para outras fontes de segurança. Deus os acusou de negociarem com a morte. Isso se refere à aliança que Ezequias fez com o rei Tiraca (faraó da XXV dinastia, o etíope, do Egito) contra a Assíria (2 Reis 19.9; Isaías 37.9). Deus cancelaria esse acordo. O Egito não ajudaria quando Assíria atacasse. Vale à pena vender nossas crenças por uma proteção temporal contra um inimigo? Se quisermos uma proteção durável, devemos nos voltar ao único que pode salvarnos da morte eterna: Deus. Se vamos construir algo, necessitamos de uma base firme. Isaías fala de uma pedra angular, que se colocará em Sião. Esta pedra angular é o Messias, o cimento sobre o qual construímos nossas vidas. A sua vida está construída sobre a base frágil de seus próprios êxitos e sonhos? Ou está estabelecida sobre um cimento firme (Salmo 118.22; 1 Pedro 2.8)?
Não era incomum as entradas das cavernas serem grandes o bastante para abrigarem rebanhos de animais durante tempestades, e freqüentemente a caverna se ramificavam em várias direções diferentes da entrada. Talvez o rei tivesse removido o artigo de vestuário exterior dele e deixado perto da entrada da caverna e entrou mais adiante na escuridão para defecar, Davi então pôde cortar um pedaço do roupão de Saul. Estudantes da Bíblia apresentam vários motivos sutis para essa ação, por exemplo, simboliza que o reino ia ser rasgado de Saul e entregue a Davi. Aqui, porém, a retirada do pedaço do roupão é um sinal de restrição e inocência. O único motivo apoiado pelo texto é que Davi quis uma prova para convencer o rei que a vida dele tinha estado em suas mãos. O argumento dele era inteligente e persuasivo. O fato que ele não tinha atacado Saul, e o pedaço do roupão de Saul provou que ele poderia ter matado-o facilmente, era à prova de que ele não era e nunca tinha sido inimigo de Saul. Os sentimentos de Davi eram tão fortes sobre não prejudicar o ungido de Deus que depois ele matou o Amalequita que disse que tinha matado Saul (2 Sm 1:1-16). Saul agora, seguramente tem que perceber que Davi não era culpado de algum mal ou rebelião. Davi mostrou a injustiça que estava sendo perpetrada contra ele. Davi tinha resistido a pressão e tinha poupado Saul. A implicação também é que Saul deveria resistir a pressão dos seus aconselhadores para matar Davi. Tais homens se esforçaram para inflamar Saul contra Davi. Davi administrou um “tratamento de choque” em Saul (1 Sm 24:17). Depois que Davi tivesse provado ao rei de maneira conclusiva que Saul não tinha nenhum motivo para buscar a vida dele, ele invocou Deus como juiz entre eles. Ele somente desfez a suposição que era um traidor. Ele vindicou ser íntegro, nunca pediu para Saul a coroa, não pediu para Saul abdicar ou o designasse como seu eventual sucessor. Ele não tomaria, mas só teria a coroa como um presente. Davi só perguntou se a perseguição havia terminado.Saul foi esmagado emocionalmente pelas circunstâncias, Surpreendentemente, ele admitiu que Davi iria ser o rei de Israel um dia, e fez Davi fazer um juramento solene que trataria bem a família dele. Saul voltou para Gibeá, mas apesar das lágrimas e da fala emocionada, ele continuou a perseguição a Davi novamente (1 Sm. 26:2, 21). Saul descreveu três possíveis níveis de vida: o nível divino onde nós devolvemos bem pelo mal; o nível humano onde nós devolvemos bem pelo bem; e o nível satânico onde nós devolvemos mal pelo bem.

CONCLUSÃO

Deus controla nossos inimigos! Como regra nós devemos levar aos cuidado de Deus nossos inimigos, ele pode fazer um trabalho muito melhor que nós. Quando nós fazemos as coisas pelas nossas próprias mãos, nós já não estamos caminhando por fé. Nós não estamos confiantes em Deus. O que nós realmente estamos dizendo é, - Senhor! nós não podemos confiar que Você controle esse assunto dessa maneira, nós queremos resolver de outro jeito portanto, nós mesmo vamos fazer isso. Davi porém, deixou Deus controlar Saul. Ele reconheceu e salvaguardou o ungido do Senhor. Considerando que o cristão contemporâneo normalmente não depara-se com inimigos que foram ungidos por Deus através de um dos seus profetas, há uma tendência para limitar o termo “ungido de Deus” para a liderança ordenada da igreja. Liderança insegura usa freqüentemente este conceito para se proteger de qualquer crítica e da responsabilidade de ser responsável pelas suas ações. Mas a idéia de “ungido de Deus” tem uma aplicação muito mais ampla, não se restringe aos reis do Antigo Testamento e ao “clero profissional”. Precisamos aplicar esse conceito a todas as pessoas. O conhecimento que cada pessoa é feita à imagem de Deus, que é o objeto do eterno amor de Deus, e que é capaz de comunhão com Deus; e é a pessoa por quem o Cristo morreu para lhe fazer um “ungido de Deus”.

Professor Roberto Ribeiro


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