Diante das agruras deste mundo, tanta indiferença, desamor e interesse próprio, nos faz bem, às vezes, fechar os olhos e pensar em Deus e refletir o que estamos e como estamos vivendo. Que este ano que termina, com tudo o que aconteceu, nos leve a perceber que não somos donos de nada, e o tempo se vai. Por que então não vivermos bem, não olharmos o que e quem está à nossa volta com respeito, afeto? A enchente, aqui, em Santa Catarina, nos ensinou coisas, que para alguns, talvez, tenham sido pouco, para outros, uma lição de vida profunda, manifestada no entregar-se um pouco ao próximo. Lembro-me de uma menina no Centro de Eventos da Marejada, Itajaí, que por horas, também como voluntária, ajudou a outros voluntários a preparar cestas básicas para os desabrigados. Num momento de sua ajuda, ela colocava pirulitos nas sacolas, eram em forma de círculo e com faixinhas coloridas. Vinha, colocava quatro, cinco. Vinha novamente e repetia o ato. O que se passava na cabeça daquela menina de 8, talvez 9 anos? Por certo, ela imaginava pessoas recebendo, abrindo aquelas sacolas e, dentre os alimentos, encontrando os pirulitos e adoçando um pouco a vida na hora de tanto amargor. Adultos e crianças, provavelmente, passaram por sua cabeça. Parecia um ritual; como que semeava aqueles pirulitos nas sacolas. Alguém os recebeu. Acho que todos que estavam ali imaginaram alguém, uma criança, desfrutando os pirulitos. Aquele gesto me ensinou algo: que a gente pode fazer a diferença levando um pouco de doçura aonde não há. Essa doçura nem sempre é uma bala, um pirulito, um chocolate, mas, às vezes, o respeito, a espera sem julgamento, o desejo do melhor aos outros, coisas que parecem estar sumidas da “sacola dos mantimentos” de tantos nestes dias. Que Deus nos abençoe neste Natal e que, no ano que chega, nos mantenhamos à sombra do Onipotente.

José Carlos Martins