A recompensa perdida

"Vás, porém, esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra tem uma recompensa" (2 Crônicas 15.7).

A idéia de receber uma recompensa agrada a qualquer pessoa, mas agrada especialmente às crianças. Elas apreciam receber algo em troca dos pequenos serviços prestados. Mas existem pessoas que querem recompensas, sem concluir a tarefa. Para justificar o fato, elas reclamam do calor, da chuva, do sol, da enormidade do trabalho como razões que os fizeram parar de lutar. Todavia, quando só recebem aquilo a que fizeram jus, se dizem ludibriadas... exploradas. Deus promete e deseja realmente nos compensar mas espera que antes disso concluamos a tarefa a que nos foi confiada.

Com a instalação de uma indústria, foi enorme o êxodo das auxiliares domésticas, e certa mãe, se vendo assoberbada de afazeres, recorreu à ajuda da filha de dez anos. A família viajaria, aproveitando as férias do pai. Assim, nesse pensamento, nos primeiros dias a garota se esforçou ao máximo; contudo, em menos de uma semana, sem maiores razões, ela, com um simples muxoxo, foi dízendo com muita franqueza e decisão:

- Sabe de uma coisa? Não vou mais ajudar. Não ganho nada com isso...

A mãe não insistiu. Foi se desdobrando na tentativa de fazer tudo sozinha; mas teve de parar com as costuras. Certa tarde, quando o marido regressava do trabalho, trazendo a filha da escola, assustou-se, vendo a esposa acamada. Chamou o médico, que receitou um prolongado repouso, soro e ainda transfusão de sangue, por causa do esgotamento do organismo.
E disse:

- O trabalho tem sido excessivo e sua esposa tem de repousar mesmo.

- É verdade, doutor. Temos casa com quintal, crianças e ela tem tomado a responsabilidade de tudo absolutamente só - respondeu o marido.

Do quarto contíguo, a menina ouviu tudo e se sentiu culpada.
Quase não conseguiu dormir naquela noite, lembrando das palavras do pai ao médico: "Ela faz tudo sozinha..". No dia imediato, quando voltou da escola, já esquecida dos fatos, estava cheia de esperanças de ainda realizarem o passeio programado. Entretanto, para tristeza sua, após o jantar, o pai disse:

- Não poderemos mais viajar no seu período de férias, por duas fortes razões: a maior delas é que a mamãe ainda está muito fraca e incapaz de concluir os preparativos para essa viagem. A outra é que o orçamento da família ficou
seriamente comprometido por causa da enfermidade da mãe.

De fato, isso era verdade. Os gastos com hospital e médico foram além do previsto e, com a necessidade de absoluto repouso para a esposa, havia necessidade de despesas extras.
Mas foi nesse momento, vendo cair por terra todos os seus sonhos de realizar um passeio mais prolongado, que a menina sentiu mais de perto o coração esmagado por um forte sentimento de culpa. E já na sua cama, monologando, ela dizia:

- Se eu houvesse permanecido fiel no cumprimento das tarefas que mamãe me confiou, certamente agora estaria recebendo a recompensa do meu esforço e da minha justa e natural participação nas atividades do lar. Mas falhei e a recompensa não podia acontecer...


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